Por que a diferença incomoda?


Minha resposta está embasada nos conhecimentos referentes aos deficientes auditivos. Vivemos em um mundo preparado para o ouvinte. Espaços sociais, afetivos e comunicativos, muitas vezes, são inatingíveis pelo surdo, que muitas vezes é o incomodado.
Segundo Glat (2004) o ser humano é social por natureza, que precisa estar inserido na vida grupal, para que haja uma saúde emocional e sobrevivência física. É nas relações humanas que ele desenvolve seus valores e capacidades intelectuais. Sendo assim, a família, que é o primeiro grupo social desempenha papel primordial para o desenvolvimento cognitivo-afetivo do indivíduo bem como este se relaciona com a sociedade. É na família que desenvolvemos atitudes vitais para a efetivação da socialização.
            Uma família durante a gestação de um filho nunca espera que este seja especial. Porém quando isso acontece, a estrutura familiar se rompe. O sonho idealizado é desfeito e uma situação de crise é provocada (Glat, 2004). Sendo o plano “A” desfeito há a necessidade de um plano “B”, que muitas vezes é elaborado tardiamente, apenas depois de todos os sentimentos de rejeição.
            E como fica a educação neste cenário de inclusão?“Excluir é tanto a ação de afastar como a de não deixar entrar” (Cury, 2005). Votamos a pergunta inicial, por que a diferença incomoda tanto? Quando pensamos no verbo incomodar, logo aparecem outros sinônimos, aborrecer, irritar e zangar. É importante lembrar que existem dois pontos de vista que devem ser considerados.
De um lado temos a posição da pessoa com deficiência, que muitas vezes sente-se incomodado pela situação vivida em sociedade, principalmente em sala de aula. Eu sinto diferente: nas aulas de Filosofia, História Geografia, Português eu olho direto para o intérprete, mas nas aulas de Matemática, Química, Física é um problema: olho para o intérprete, olho para o professor, olho o intérprete, olho o professor. Preciso ver a explicação do professor no quadro. O intérprete precisa ficar junto do professor . Isso é um problema.” ( Jorge, aluno surdo da 2ª série do Ensino Médio). Fonte: EDUCAÇÃO INCLUSIVA DE SURDOS/AS NUMA PERSPECTIVA INTERCULTURAL PEDREIRA, Silvia Maria Fangueiro – PUC-Rio. Este aluno ainda teve o privilégio de ter um intérprete, e ainda assim, sente-se incomodado, pensemos agora nos que ainda não usufruem deste recurso.  Do outro lado a posição do profissional, familiar, amigo enfim da sociedade que lida com a deficiência e também passa por desconfortos, pois tudo o que nos tira da rotina acaba incomodando.
Destacamos somos diferentes, temos habilidades e limitações, em um ou outro momento incomodamos e somos incomodados, mas para que a política de educação inclusiva prospere é necessário refletir sobre os caminhos da inclusão já percorridos, nos apoiar nas vitórias obtidas e utilizá-las como alavanca para seguir avante no propósito de efetivação e cumprimento do que diz a lei no artigo 205 da Constituição Federal de 1988 "A educação, direito de todos e dever do Estado e da família.
Rosane de Carvalho
Referências Bibliográficas
CURY, Carlos Alberto Jamil. Políticas inclusivas e compensatórias na educação básica. Cadernos de Pesquisa, 2005 - SciELO Brasil.  
GLAT, Rosana. Uma família presente e participativa: o papel da família no desenvolvimento e inclusão social da pessoa com necessidades especiais. Anais do 9º Congresso Estadual das APAEs de Minas Gerais, disponível em CDRom, Belo Horizonte/MG, 2004.
EDUCAÇÃO INCLUSIVA DE SURDOS/AS NUMA PERSPECTIVA INTERCULTURAL PEDREIRA, Silvia Maria Fangueiro – PUC-Rio –

CARVALHO, Rosane de. O USO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS PARA O SUCESSO DO SURDO NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO. Revista Eficaz 2011  

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